segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Perdas e luto.

Quando ouvimos a palavra luto, logo vem em nossas cabeças o momento e os sentimentos expressos por uma pessoa que vivenciou a morte de uma pessoa muito querida e amada.

É normal que a pessoa enlutada vivencie sentimentos de dor, tristeza, choro, raiva, negação, solidão, desamparo, desinteresse pelo mundo exterior e nostalgia, sempre relembrando momentos agradáveis ao lado da pessoa falecida. As sensações físicas como vazio, aperto no peito e cansaço também são relatadas pelas pessoas nesse processo.

Apesar de todo o sofrimento diante da perda é esperado que a pessoa vá reorganizando sua vida e ressignificando o sentimento de perda com o passar do tempo, mas acontece que muitas pessoas não conseguem fazer essa reorganização emocional e pessoal, nem tão pouco levar sua vida a diante, ficando fixadas na perda sofrida. Diferentes motivos podem ser responsáveis por isso, por exemplo, o pensamento de não merecer uma pessoa boa ao seu lado ou a revolta por ser tão injustiçado por lhe ser tido tirada a pessoa querida.

O que muitas vezes não imaginamos é que a dor da perda de objetos, estatus social, emprego e a separação no namoro ou casamento, pode ser tão forte quanto a morte fisica da pessoa querida. Assim, o luto também deve ser vivenciado na ocasião dessas perdas, mas muitas vezes não é isso que ocorre.
Para descrever as fases de elaboração do luto, usarei os estudos de Elizabeth Kubler-Ross, psiquiatra suíça, que descreveu as 5 fases em seu livro Sobre a morte e o morrer (1969).

É importante lembrar que essas fases não precisam seguir uma sequência ou que tenham que ser vivenciadas da mesma forma por todas as pessoas.  

  1. Negação e Isolamento: Impacto inicial da notícia onde pode ocorrer uma paralisação na pessoa e ela não conseguir dar seguimento a pensamentos. Também é comum nessa fase que se tente negar o ocorrido, não acreditando na informação que se está recebendo. A negação é uma defesa temporária, sendo logo substituída por uma aceitação parcial. Também é comum uma transição em falar sobre a realidade do assunto em um momento e de repente negá-la completamente.
  2. Raiva: Surgem sentimentos intensos como: raiva, revolta, inveja e ressentimento, além da clássica pergunta: “porquê eu?”. Esta raiva, geralmente é projetada no ambiente externo, no sentido de inconformismo. Neste momento os familiares podem sentir pesar, culpa ou humilhação.
  3. Barganha: Após ter se revoltado, e nada adiantado, passa-se a utilizar inconscientemente outro recurso, tentando fazer algum tipo de acordo que faça com que as coisas se restabeleçam. Geralmente este movimento volta-se para à religiosidade. Ex.: promessas, acordos, pactos, geralmente em segredo.
  4. Depressão: Ocorre um sofrimento profundo, onde já não se pode mais negar os acontecimentos e nem se revoltar contra eles. É a fase de introspecção profunda e necessidade de isolamento.
  5. Aceitação: Tendo superado as fases anteriores, percebe-se e vivencia-se uma aceitação do rumo das coisas. Os sentimentos não estão mais tão a flor da pele, como se a dor tivesse esvanecido, a luta tivesse cessado e as coisas passam então a ser enfrentadas com consciência das possibilidades e das limitações.
Quando o processo de elaboração do luto não é realizado e a perda não é aceita de maneira natural, é preciso que a pessoa procure ajuda psicoteraupêutica afim de entender qual o papel que a pessoa ou objeto perdido ocupava em sua vida, para  enfrentar a avalanche de emoções que vivenciará e então se reorganizar e dar novo sentido em sua vida.

2 comentários:

  1. Excelente artigo Adriana, gostei muito... e me fez matutar (rs):


    ...Penso que aceitar a perda comumente envolve aceitar a perda de parte de si – pois, além da normal identificação - como defesa é possível também introjetar o objeto perdido, causando entre outras coisas uma inibição da faculdade de amar (investir).

    E a complexidade disso consiste, dentre outras muitas coisas, na dificuldade de (olhando pra si) desinvestir o afeto depositado naquele ‘objeto’ e voltar a investir em outros, recanalizar o afeto. O que, muita vezes, é possível com o decurso natural das coisas, outras, seja por uma potencialização do sentimento de culpa, ou por qualquer outro fator constitutivo, faz-se necessário o auxílio psicoterapêutico.

    ResponderExcluir
  2. Olá, Stan.

    Gosto muito de te fazer matutar (rs), pois seus comentários são ótimos.

    Quando amamos refletimos no objeto amado, tanto aquilo que gostamos em nós mesmos, quanto o que não encontramos em nós, mas encontramos no objeto perdido. Assim, perder significa ter que encontrar um novo objeto que nos proporcione o que nos falta, bem como nos "permita" depositar nossos desejos.

    Obrigada por mais essa contribuição,
    Adriana

    ResponderExcluir