terça-feira, 27 de março de 2012

É só uma mentirinha.



Quem nunca contou uma mentirinha que atire a primeira pedra.

Seja pra escapar de uma bronca dos pais, para conseguir alguma coisa ou até mesmo ao atender ao telefone dizer que uma pessoa não está justamente para não dizer a verdade, que a pessoa não quer falar, o fato é que sempre contamos alguma mentira e que este ato geralmente não é bem visto e aceito pelas pessoas, pois temos a sensação de que aquele que mente não é confiável.
Porém, a mentira como adaptação social, como o exemplo da mentira no telefone é aceita, pois muitas vezes é melhor dizer que a pessoa não está do que dizer que não quer falar com quem telefonou. Já quando ela passa a ser um distúrbio de comportamento podemos ter um caso de mitomania, ou seja, a tendência patológica mais ou menos voluntária e consciente para a mentira.
Você deve estar confuso e se perguntando: e agora pode ou não pode mentir? Mentir é normal ou uma doença?
Vou explicar. Quem nunca teve um amigo ou colega, que te fez desconfiar de que alguns pontos em suas histórias não se encaixam? Alguém que conta ter viajado pelo mundo e estudado em colégios caros durante a adolescência, mas que depois descobrimos uma história de vida bastante humilde.
Outro exemplo é de uma criança que mesmo tendo um pai violento e pouco presente pode contar para os colegas que sua relação com ele é divertida e amorosa, que fazem muitos passeios prazerosos juntos e são muito amigos.
Esses dois últimos casos podem exemplificar a diferença entre uma adaptação social de mentira como a do telefone e a de um mitômano.
Devemos compreender que dizer a verdade passa a ser um sofrimento para quem tem mitomania, pois o objetivo do mitômano não é mentir para prejudicar o outro, mas para conseguir algo para si mesmo, que geralmente está relacionado à necessidade de suprir aquilo que falta em sua vida, ou seja, ele não mente sobre tudo. Ele mente sobre um ponto específico, de onde vem seu problema, da origem dos seus conflitos.
Mais um exemplo para diferenciarmos o mitômano de uma pessoa que faz para prejudicar o outro, é o de um homem com dificuldade de relacionamentos interpessoais que conta para os amigos e familiares que sempre tem encontros muito prazerosos com as mulheres. Já em outros pontos de sua vida ele não mente, e ser honesto quanto a questões financeiras e de trabalho é muito fácil.
Manter uma mentira é muito difícil e desgastante, em algum momento ela passa a ser descoberta e com isso começam a aparecer os maiores riscos para o mitômano, como o isolamento social e o descrédito diante dos círculos familiar, de trabalho, de amigos e assim por diante. Esse isolamento pode causar depressão, ansiedade e outras patologias que passam a ser perigosas para o mitômano.
O mitômano pode estar sofrendo com as consequências de suas mentiras, mas geralmente não buscará ajuda sozinho, pois mesmo sabendo que o que ele diz não é totalmente verdadeiro, ele precisa acreditar que seja para manter um equilíbrio interior. Contando histórias ele se sente tranquilizado e com suas carências supridas.
Por outro lado, deixar de mentir também tem uma consequência muito sofrida para ele e é por isso que muitas vezes é a família quem procura ajuda para o mitômano, uma vez que estes já descobriram algumas mentiras.  Além da procura por ajuda, a família ocupa outro papel essencial no tratamento do mitômano, uma vez que este precisa sentir-se acolhido e entendido pelas pessoas que o cerca. A esta cabe ainda à compreensão de que o fato da pessoa estar sendo ajudada e em tratamento, não significa que as mentiras não voltarão a acontecer. Ela poderá se repetir durante e principalmente no início do tratamento, uma vez que a pessoa ainda estará em processo de autoconhecimento.
A cura da mitomania pode ser alcançada com o trabalho psicoterápico, quando o paciente poderá entrar em contato com as questões que lhe causaram a necessidade de mentir e a partir daí construir o fortalecimento da sua estrutura psicológica e a adaptação ao mundo sem a necessidade anteriormente predominante. O trabalho conjunto com a psiquiatria também pode ser necessário, pois como vimos, um dos grandes perigos da mitomania são suas consequências, como a ansiedade excessiva para manter suas mentiras, por exemplo. Assim, o uso de medicamentos pode ser indispensável. 
Outro ponto importante a ser considerado é que o fato da pessoa ser boa em contar mentiras, não significa que se tornará um mitômano, pois se ela tiver uma boa estrutura mental saberá manter-se saudável.

Por mais difícil que seja aceitarmos mentiras de pessoas queridas, é mais importante estendermos as mãos e oferecermos ajuda ao mitômano, do que atiramos pedras.

domingo, 18 de março de 2012

Eu tenho medo. E você?

O medo parece ser um sentimento que nos acompanha durante todo o tempo. Temos medo da solidão, do mar, de altura, de morrer, da multidão, de ser infeliz e de ser feliz, de amar e de ser amado. Enfim, essa lista pode ser tão extensa quanto se queira e, com certeza, você poderá acrescentar mais uma dúzia de medos a ela.

Em sua obra Medo líquido, Zygmunt Bauman diz: “As oportunidades de ter medo estão entre as poucas coisas que não se encontram em falta nessa época, altamente carente em matéria de certeza, segurança e proteção”. O fato é que o medo é essencial a nossa preservação, afinal de contas, como seria não ter medo de altura e nos jogarmos de um precipício sem um paraquedas? O medo real, consciente e “normal” nos mantém vivos.

Já, quando o medo passa a ser irracional, exagerado e geralmente de algo que não nos traz risco de vida, podemos dizer que é um medo patológico. Esse medo pode trazer não só a paralisação física da pessoa diante de uma determinada situação ou objeto, mas até mesmo prejuízos tangíveis para o seu dia a dia. Uma pessoa com medo de avião pode ter a vida profissional prejudicada ao recusar uma boa oportunidade de emprego, uma vez que viajar de avião poderá ser uma rotina.

O medo patológico pode ser classificado como fobia quando este aparece especificamente em algo - como o exemplo do avião ou outros comuns como o de elevador, de altura e de barata. Nesses casos, uma pessoa pode sofrer uma paralisação diante da exposição ao estímulo causador do medo, ter sudorese, taquicardia, tremores, dores de cabeça, sensação de desmaio dentre outros sintomas.

Outra forma de medo patológico é a síndrome do pânico, em que uma pessoa também apresenta os sintomas da fobia, mas geralmente não se sabe o que desencadeia uma crise por não haver um estimulo específico. É comum alguém com síndrome do pânico passar por longas e exaustivas visitas às mais variadas especialidades médicas em busca de uma explicação para suas taquicardias, terríveis dores de cabeça e demais sintomas sem obter sucesso no diagnóstico por não apresentar nenhum problema físico aparente.

Nesses dois casos - a fobia e a síndrome do pânico - o medo pode ser tão grande e preocupante que a pessoa desenvolve uma ansiedade antecipatória quando passa a ter medo de sentir medo e de ter nova crise, prejudicando assim os diversos contextos de sua vida. Por exemplo, evita ir à praia por medo do mar, apesar de adorar a praia, ou evita ir ao trabalho por ter vivenciado uma crise de pânico nesse ambiente. Com isso, a fuga passa a ser uma constante na vida da pessoa com fobia ou síndrome de pânico.

Com a ajuda de um profissional, porém, ela poderá aprender que essa não é a melhor saída para seus medos, mas sim aprender a enfrentá-los. O indivíduo deve conhecer qual é a origem do seu medo patológico porque geralmente transferimos nossas angústias para algo exterior que apenas pode representar o que de fato está no interior deste individuo.

Se o seu medo te impossibilita de realizar seus desejos, procure um profissional da psicologia para que juntos possam desconstruir a situação fóbica ou da síndrome do pânico.

E você tem medo de que?