quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ditadura da beleza.

Um dia conversando com um colega de profissão, sobre o comprometimento dos profissionais prestadores de serviços, ele me disse: “é incrível como as pessoas preferem fazer várias cirurgias plásticas a fazer análise”.
Então, fiquei pensando no quanto é difícil, na sociedade moderna, alguém estar fora dos padrões fabricados de beleza, ainda mais com a rapidez em que a cada dia surgem milagrosos cosméticos, técnicas de emagrecimento, aparelhos de ginástica e outras tantas coisas para fazer com que as pessoas se tornem “verdadeiramente” belas. Isso sem falar da tecnologia da informática. Isso mesmo, os famosos photoshops. Ou vocês acham que todas as mulheres “lindas” que vemos em outdoors, revistas de beleza, TV, cinema e aí por diante não tem sequer uma mancha na pele, uma gordurinha na cintura ou uma imperfeiçãozinha qualquer?
Quem não viu a revista NOVA publicar em fevereiro/2010 sua capa com a cantora Claudia Leite sem umbigo e ainda mais recentemente um anuncio da L’Oréal com a atriz Julia Roberts ser proibido no território nacional britânico, devido o excesso de retoques na foto da atriz?
E as mulheres do dia-a-dia? As que acordam cedo para um duro dia de trabalho, seguido pela noite de estudo, casa, marido, filhos para cuidar e ainda precisam ficar “lindas” como as fabricadas pelas novas tecnologias que surgem diariamente. Sim. Diariamente, pois aquele tratamento que você se preparou para iniciar na próxima segunda-feira já está ultrapassado... agora terá que passar a olhar para o mais moderno.
Isso falando de mulheres, para quem a indústria da beleza foca todos os seus esforços para lucrar cada vez mais, mas é claro que os homens também sofrem ao olharem para sua barriguinha de chopp e para a do modelo com barriga de tanquinho no outdoor de propaganda de cuecas.
É tanta informação e novas propostas que, se não tivermos senso crítico, somos levados a querer experimentar tudo ou, pior ainda, sentimos nossa auto-estima despencar, formando um círculo vicioso em busca da felicidade, através da beleza ideal.
O pior é que a saúde, que deveria ser a prioridade de uma alimentação saudável ou a prática regular de atividade física, muitas vezes passa despercebida, pois todos esses esforços são para ficar magra, sarada, e com pele de 20 até os 60 anos.
Então, por que emagrecer? Para me sentir bem ou para atender as exigências da sociedade?
O padrão de beleza imposto pela sociedade causa cada vez mais insatisfação entre as pessoas que se veem distante desse padrão que devasta o inconsciente e o emocional das pessoas. E então essas pessoas começam a sofrem com a baixa auto-estima e a falta de saúde física e emocional.
Anorexia, bulimia, ansiedade, doenças psicossomáticas (como dores de cabeça e musculares, queda de cabelos, gastrite etc.), desvalorização da inteligência como objeto de admiração e até suicídio, são resultados da busca incessante pelos padrões da ditadura da beleza.
Voltando a conversa com meu colega, penso que é mais fácil para as pessoas se dedicarem às exigências da moda e da beleza, colocarem sua saúde e até a vida em risco a se dedicarem ao autoconhecimento, a entenderem que a maior beleza está naquilo que cada um tem de melhor, na beleza natural e não na fabricada e assim ser feliz consigo mesmo, e claro, aproveitar os modernos tratamentos cosméticos a seu favor e não exageradamente, tendo como conseqüência a devastação do seu ser..

domingo, 17 de abril de 2011

Por que não consigo mudar?


Para discorrer sobre esse assunto, que frequentemente aparece no consultório, me apoiei no livro O ciclo da auto-sabotagem de Stanley Rosner e Patrícia Hermes.
Muitas vezes gostaríamos de mudar, criar, aprender, crescer, utilizar o potencial que sentimos existir dentro de nós, para quem sabe podermos responder a uma pergunta, aparentemente, simples: quem sou eu? Mas existem pessoas que além de não conseguir enfrentar esses desafios, acreditam que não seria correto, pois a única maneira correta de ser e agir é seguindo os passos de outra pessoa.
Assim, pessoas crescem acreditando que elogios não são necessários, pois tirar boas notas na escola quando criança não era um mérito, mas apenas uma obrigação, outros acreditam que não podem crescer e serem bons profissionais e se destacarem em sua vida profissional, pessoal, afetiva, pois cresceram ouvindo que não eram tão bons assim. Quem nunca se viu agindo ou pensando de alguma forma idêntica ou parecida com a que viveu na infância?
Se forem questionadas sobre sua forma de agir, certamente essas pessoas responderão que essa é a maneira correta, é familiar e já sabem como fazer, afinal sabemos que a mudança e o desconhecido não são tão fáceis de serem encarados. 
Outro fator importante é que a criança necessita de identificação e exemplos para se desenvolverem. O problema é que alguns pais comunicam ao filho que sua forma de ser e pensar é superior e correta. Porém quando a criança cresce, percebe que outras famílias agem de forma diferente, mas como confrontar pensamentos com pais tão dominadores e controladores?
Diante do desejo de receber o amor dos pais, a criança opta pela identificação absoluta com esses. E em uma eterna busca por esse amor a criança se torna um adulto reprodutor dos pensamentos e ações dos pais. Mesmo que estejam sofrendo, a mudança desse ciclo de repetição é difícil, pois acreditam que a maneira como se comportam é correta e apropriada. Então porque mudar?
Eis, que diante de algum sofrimento causado por um motivo externo como o trabalho ou um relacionamento amoroso, mas nunca pelo motivo que causou essa repetição em sua vida e dificuldade de mudar, a pessoa procura ajuda psicológica, quando então é questionado quanto ao seu passado. Mas por que o passado se o que causa o sofrimento é cotidiano?
Quando enterramos o passado traumático, tendemos a revivê-lo várias vezes, tentando inconscientemente dominar aqueles eventos incontroláveis. Portanto, a finalidade de mexer no passado é a de ajudar a pessoa a se tornar livre, com controle da própria vida. Fazer com que o passado chegue à consciência.
E é durante o processo terapêutico que o paciente começa a entender o real motivo da sua forma de agir, primeiramente com uma compreensão racional, que provavelmente não trará mudanças, mas quando chegar à compreensão emocional de como vivenciou os acontecimentos em sua vida o processo de mudança se iniciará.
Quando o conhecimento chega à consciência é que podemos mudar, mas apenas se for internalizado, sentido e elaborado. A mudança e a consciência estão intrinsecamente ligadas.
Assim, a mudança interna pode começar a ocorrer, com a pessoa perdendo o medo e a insegurança de poder responder a pergunta: quem sou eu?, sem ter que se identificar e reproduzir modelos interiorizados como única verdade.